segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Liderando a si mesmo no ápice do estresse

" E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele dentre vós que estiver sem pecado, seja o primeiro que atire a primeira pedra contra ela"
(João 8:7)

    Milhares de judeus eram lúcidos e sensíveis. Eles amavam profundamente a Jesus. Mas havia um grupo de lideres e fariseus que o odiavam, tinham aversão pelo seu comportamento afetivo e tolerância. Como Jesus era socialmente admirado, eles precisavam ter um forte álibi para condena-lo sem causar uma revolta social.
    Depois de maquinar, prepararam uma armadilha psíquica quase insolúvel. Certa vez uma mulher foi pega em flagrante de adultério. Os fariseus arrastaram-na para um lugar aberto, para o local onde Jesus, o Mestre dos mestres ensinava a uma grande multidão.
     Interromperam abruptamente a sua aula. Colocaram a mulher abruptamente em sua sala ao ar livre. Sob o olhar espantados dos presentes, eles proclamaram de modo altissonante que ela foi pega em adultério e, segundo a lei teria que morrer. Sutilmente, olharam para Jesus e fizeram-lhe uma pergunta fatal: "Qual seria o seu veredicto?"
   Nunca haviam pedido a Jesus para decidir qualquer questão, mas fizeram essa pergunta para incitar a multidão contra ele e para que, assim, ele fosse apedrejado junto com ela. Sabiam que Ele discursava sobre a compaixão e o perdão como nenhum poeta jamais discursara. Se Ele se colocasse ao lado dela, teriam como justificar a sua morte. Se condenasse a mulher, iria contra a Si mesmo, contra a fonte de amor sobre o qual discursava. a multidão ficou paralisada.
    O que você faria se estivesse sob a mira de um revolver? O que pensaria se estivesse em seus últimos segundos de vida? Ou, então que atitude tomaria se fosse despedido subitamente? Que reação você teria se alguém que você amasse muito lhe causasse a maior decepção de sua vida? Que comportamento você teria se tudo o que você mais valoriza estivesse por um fio, corresse o risco de ser perdido subitamente?
    Frequentemente, reagimos sem qualquer lucidez nos momentos de tensão. Dizemos coisas absurdas, incoerentes, ferimos pessoas e nos ferimos. O medo, a raiva, a ansiedade nos impelem a reagir sem pensar. Os instintos controlam a nossa inteligência.
    Jesus, o Mestre dos mestres da qualidade de vida estava sob o fio da navalha. O drama da morte o rondava e, o que era pior, poderia destruir todo seu projeto de vida.
   Os seus opositores estavam completamente dominados pela raiva. A qualquer momento, as pedras seriam atiradas, as cenas de terror se iniciariam. Foi nesse clima irracional que Jesus foi cobrado a dar uma resposta. Todos estavam impaciente, agitados esperando suas palavras. Mas a resposta não veio... Ele usou a ferramenta do silêncio. Ele nos deu uma grande lição: revelou que num clima onde ninguém pensa a melhor resposta é não dar resposta. É procurar a sabedoria do silêncio.  
    Você usa a ferramenta do silêncio quando é pressionado?
    Nos primeiros trinta segundos quando estamos estressados cometemos nosso maiores erros.
    Nunca se esqueça disso: Seus maiores erros não foram cometidos enquanto você navegava nas calmas águas da emoção, mas enquanto atravessava os vales da ansiedade. São nesses momentos que dizemos palavras que nunca deveriam ser ditas.
   Jesus voltou para dentro de si, dominou sua tensão, preservou-se do medo, abriu as janelas da sua memória e resgatou a liderança do "eu". Executou todos esses mecanismos psíquicos sob a aura do silêncio. Foi autor da sua história, num momento em que qualquer psiquiatra seria vitima.
    Pelo fato de ter resgatado a liderança do "eu", teve uma atitude inesperada naquele clima aterrorizante: Começou a escrever na areia. Era de se esperar tudo, menos esse comportamento. Seus opositores ficaram perplexos.
    Somente alguém que é líder de si mesmo é capaz de ter coordenação muscular e serenidade para escrever num momento em que estão querendo assinar sua sentença de morte. Somente alguém que sabe ter domínio próprio e fazer escolhas é capaz de encontrar um lugar de descanso no centro de uma guerra. Ele era livre para escrever idéias em situações em que só era possível entrar em pânico, gritar, fugir. Seus gestos fascinantes e serenos deixam abismada a psicologia.
    Ninguém sabe o que Ele escrevia, mas deviam ser frases de grande conteúdo. Talvez escrevesse algo que demonstrasse a intolerância humana, a facilidade que temos em julgar os outros e a incapacidade que temos de um tesouro escondido por trás da cortina dos erros. Talvez escrever que o perdão é um atributo dos fortes; a condenação, dos fracos.


Texto: Augusto Cury